Autora: Suênia Lino
21-03-19
Num dia qualquer de setembro, sem explicação aparente, pouco depois de ter passado um período conflitante, quando minhas certezas e a própria existência foram questionadas, abri uma caixa de fotografias e encontrei uma foto do meu tempo de adolescente. Na parte de trás da foto estava escrito uma simples e enigmática pergunta: Quem é você? De pronto me veio à cabeça o meu nome, mas passados alguns minutos, ainda intrigada com a pergunta, iniciei um debate interior.
Revirei o território mais profundo de minha mente, caminhei com os pensamentos e olhei-me num espelho, que agora refletia um rosto pouco diferente ao da foto. Este se apresentava mais desgastado, haviam marcas na pele sulcadas pelo tempo.
Continuando a fitar-me mais profundamente, foi se descortinando por detrás das marcas um “eu” diferente, cuja face não mais refletia apenas um rosto, mas facetas minhas, um mosaico de “meus eus” integrados a tudo e a todos parecendo fazer parte de um conjunto sistêmico, complexo e infinitamente conectado ao todo maior.
A princípio achei estranho me sentir assim, mas gradativamente fui percebendo que ali se apresentava as diversas fases de minha vida. Para cada fase uma morte e um renascimento. Quantas mortes e quantos renascimentos se somam uma existência?
sobre quem realmente sou testemunho que a partir do instante em que passei a estar de mente e corpo presentes, que quando passei a investir mais tempo na contemplação entrando em contato comigo mesma pela meditação, floresceu em mim o sentimento de paz interior cujo movimento levou-me a confiar “fiando” com os outros. Este é o preceito da paz – algo que inicialmente nasce pequenino dentro de nós, uma semente, mas que aos poucos brota, cresce, dá ramos, flores e por fim frutos. Todo fruto é parte da árvore que o gerou.
O mundo que se vive é a colheita dos frutos das relações construídas, dos pensamentos cultivados, das ilusões projetadas, das ações praticadas com ou sem amor. Cabe então a pergunta: que mundo se está construindo?
Como criaturas originalmente destinadas ao bem é fundamental que estabeleçamos um olhar fraterno àqueles que navegam uma vida sem rumo, a fim de que a paz faça morada no coração do viajante. Mas para haver a paz no mundo é necessário que aprendamos a conviver, aprendamos a aprender e aprendamos a ser.
Para aprender a ser precisamos saber quem somos realmente. Esta descoberta só poderá ser feita por cada um à medida que estiver pleno e em paz consigo. No Livro de Hebreus, estar em paz significa está inteiro, sendo esta a chave para a felicidade.
revela-se na comunhão com nossos “eus” e no encontro sereno do objeto de nossa vida, elementos fundamentais para irradiar a paz para os outros. Por certo, este estado elevado pode ser alcançado durante a meditação que consiste em “voltar para casa”. Observar tudo o que se passa em nosso mundo interior sem se apegar a nada e a nada rejeitar, deixar passar. Somente com um coração aberto e manso conseguiremos partilhar a paz.
Além disso, a prática da meditação nos levará a aceitar a impermanência, a evitar julgamentos desnecessários e apegos que nos prendem ao ego e que nos fazem sofrer.
Neste fluxo de percepções, o espelho refletiu a totalidade do que sou, permitiu-me ver o lado mais brilhante de meu “ser” transmutado pela soma das interações e pela prática da meditação, que juntas, se fundem num ato de expressão e aceitação daquilo que nos trouxe até aqui.
Suênia Lino
Aprendiz Turma XIII
21-03-2019
Suênia Lino