A PAZ NA COMUNICAÇÃO ENTRE PESSOAS SURDAS E OUVINTES
Sob o Olhar Holístico, Integrativo Para a Inteireza do Ser
Formação Transdisciplinar Holística
Pós-graduação Latu Sensu
Transdisciplinaridade: Educação, Saúde e Cultura de Paz
Universidade Internacional da Paz
Unidade: UNIPAZ SC
Autora: Acadêmica Christtine Ferreira Gerber 1
Orientadora Especialista em Educação para a Paz: Rovani Ferreira 2
Orientadora em Metodologia Científica Mestre em Ciências da Saúde Humana: Denise Almeida Benelli 3
A PAZ NA COMUNICAÇÃO ENTRE PESSOAS SURDAS E OUVINTES?
Sob o Olhar Holístico, Integrativo Para a Inteireza do Ser
Autora: Acadêmica Christtine Ferreira Gerber 1
Orientadora Especialista em Educação para a Paz: Rovani Ferreira 2
Orientadora em Metodologia Científica Mestre em Ciências da Saúde Humana: Denise Almeida Benelli 3
Resumo
O conhecimento da língua mãe que a pessoa surda traz internalizado do berço familiar e seu círculo pessoal antes de adentrar ao ambiente social seja escolar, corporativo ou profissional é extremamente importante para sua socialização. O artigo mostra, a partir de pesquisa qualitativa, vivencial, histórica e bibliográfica, que a falta desse conhecimento por profissionais que atendem a pessoa surda pode gerar profundos conflitos e fortalecer a fantasia de separatividade, a incompreensão e ausência de paz. O potencial comunicativo da comunidade surda deve ser estimulado e aproveitado, por meio da interação durante o processo de inclusão. Não basta deixar as pessoas surdas falarem entre si, a comunicação precisa acontecer efetivamente entre a comunidade surda e a ouvinte.
Palavras-chave: Acesso a Comunicação, Atendimento Holístico Terapêutico Bilíngue, Língua Mãe, Interação Cultural, Inclusão Social, Saúde Cultura de Paz, Comunidade Surda.
1 INTRODUÇÃO
Na vista do ponto de um ouvinte, quando já se está se comunicando, se lida com a fala e com a escrita de forma satisfatória, existe uma sensação de distanciamento em relação a pessoa surda, cuja comunicação se dá de formas distintas. No momento em que ocorreu o processo considerado “normal” de alfabetização na sociedade predominantemente ouvinte. A pessoa surda está visivelmente “separada” do seu processo.
Em decorrência disto, diante de situações reais de ausência de comunicação com os surdos, há os que banalizam este processo, julgando, por meio de suas próprias experiências, que assim como foram capazes de aprender, a criança surda, cedo ou tarde, também o será. Bastando que se se introduza uma prótese auditiva e tudo “se normaliza”. Ou será que tudo se “normotiza”?
O atual artigo tem a intenção de além de diagnosticar a comunicação entre a comunidade holística, terapeutas, assistentes sociais e educadores com a comunidade surda, tem a finalidade de sensibilizar e informar que infelizmente o processo “não é tão simples assim”.
Sou Formada pela USFC Universidade Federal de SC com Licenciatura Plena em LETRAS. Quando se está inserido no mundo da educação, conhecendo as implicações do processo educativo, percebe-se o quão complexa esta atividade é para a criança surda e para o seu educador.
Nas várias teorias sobre o processo de inclusão, constata-se que se é alfabetizado por meio de “modelos” e padrões de ensino fragmentados, pertencentes a escola tradicional ouvinte.
O processo de educação e alfabetização é baseado em exercícios que não levavam em consideração as diferentes realidades e especificidades do educando.
Padronizamos aquilo que não é e não pode ser padronizado: a comunicação e a educação.
Apesar das facilidades tecnológicas dos tempos atuais, é necessário refletir sobre a maneira como esse processo educacional está ocorrendo e agir em relação, porque a tecnologia possibilita um modo cultural e social extremamente diversificado que parece não estar sendo explorada suficientemente na educação de pessoas surdas.
Toda reflexão e ação são necessárias, porque é a partir da diversidade que a criança construirá a visão de mundo com a qual entrará na sociedade. No momento em que a criança começa a participar do mundo escolar, isto deveria ser visto, por pais e professores, como algo novo, diferente e fascinante.
A criança, ou pessoa surda, traz consigo uma prática de falar através das expressões faciais, corporais e gestos. É tudo que ela tem! É como pode relatar suas experiências, sentimentos, sensações e percepções. O mundo do surdo é VISUAL! O surdo lê você, não pode ouvir você. Nestas ocasiões há uma ansiedade ao perceber que não se faz compreender, não é simples se expressar, ao mesmo tempo que também não consegue entender o que os outros falam.
Suas percepções sutis são quase que incontroláveis, ao mesmo tempo em que o surdo tenta traduzir o que lê no seu interlocutor, decifrar o que significam os movimentos da musculatura facial? O movimento de suas mãos e o desviar ou piscar de seus olhos?!
É por meio de deduções que a pessoa surda precisa interpretar seu interlocutor. Fato desencadeador de um dos estágios mais importantes do processo de comunicação.
Portanto, saber “entender” o que as pessoas surdas têm a dizer é contribuir muito para que elas também se sintam partes integrantes do processo e corresponsáveis por ele.
Cada Ser “educando” ouvinte ou surdo, traz consigo um saber social adquirido em fontes, como a família, os amigos, a igreja e os meios de comunicação, que precisam ser considerados. O progresso tecnológico pode ser muito mais aproveitado por meio de práticas que propiciem essa inclusão. Os meios de comunicação e todos os nossos sistemas, recursos e equipamentos deveriam estar adaptados, legendados e/ou traduzidos em língua de sinais.
Nossos recursos humanos, em todos os setores de assistência e serviços sociais, também precisam estar capacitados a compreender e fazer valer tudo o que é comunicado, desde uma simples opinião até uma grave denuncia de maus tratos.
Do ponto de vista do surdo, a experiência mostra que a comunicação e alfabetização mal-conduzida traz ao desenvolvimento da criança surda sérios prejuízos, irrecuperáveis os quais vão se tornando cada vez mais salientes ao longo do seu processo de “inclusão e socialização”.
Este artigo enfatiza, a partir de pesquisa vivencial de autor surdo, que sou a necessidade de o educador e os demais profissionais possibilitarem inúmeras oportunidades para que a pessoa surda possa, de fato, expressar-se e “ser ouvida”, ser vista pois é a partir da sua língua mãe que o indivíduo participa da sociedade.
Conforme Soares (2001, p.18), “[…] “Se o indivíduo não for capaz de expressar-se adequadamente em situações orais ou escritas, certamente serão destinados a ele papéis de menor valor na sociedade.”
Isto remete à crença de que a comunicação oral e escrita, traz consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la”. Para evitar essas consequências. No entanto, é fundamental que o processo de inclusão seja conduzido de forma a contemplar a paz, a mitigar a fantasia da separatividade além da patologia coletiva da normalidade chamada de NORMOSE por Roberto Crema, Reitor da Universidade Internacional da Paz, a fim de respeitar os Seres envolvidos. Assim como são.
2 O PROCESSO DE INCLUSÃO
Segundo a Professora e Pesquisadora Dra. Ronice Muller Quadros:
“O Brasil é supostamente monolíngue. Há uma história que consolidou uma compreensão de que o brasileiro fala português. No entanto, para fazermos uma reflexão sobre isso, precisamos analisar a realidade linguística brasileira. É preciso trazer alguns dados: no Brasil de hoje são falados por volta de 200 idiomas. As nações indígenas do país falam cerca de 170 línguas. E as comunidades de descendentes de imigrantes outras 30 línguas.”
E Toda esta riqueza de diversidade vem sendo simplesmente excluída da norma culta e desprezada. Ainda citando a autora é necessária:
“uma reflexão sobre o caso específico das políticas linguísticas e das políticas públicas de educação de surdos no Brasil que acabam interferindo nas formas que o bilinguismo passa a tomar nas experiências brasileiras. Esse processo de reflexão é fundamental para planejar a educação bilíngue (língua de sinais brasileira e língua portuguesa) na perspectiva da educação inclusiva no Brasil.”
Sob este ponto de vista, muitas e múltiplas ainda são as dificuldades encontradas pela pessoa surda na educação e na maioria dos estabelecimentos ou grupos aos quais desejar ou precisar se inserir. Invariavelmente, por este motivo destacamos a relevância do processo se sensibilização, e do tema escolhido supracitado.
Para num segundo momento, em se constatando a necessidade, fornecer subsídios, sensibilizar e instrumentalizar o meio holístico com pessoas agentes da paz. “Facilitadores de Paz, a fim de que sejam capazes de se comunicarem, de maneira eficaz com a pessoa surda (interagentes), sejam estes pacientes, educandos, chefes, colaboradores, professores ou clientes surdos.
Visamos destacar e possibilitar o conhecimento de meios que os facilitem a prestar este Ser Viço com o Sacro Ofício em sua atuação profissional, como ministrando aulas, facilitando e viabilizando atendimentos e/ou tratamentos que possam apresentar resultados mínimos razoáveis á comunidade surda.
Cabe ao terapeuta social, e ao educador com abordagem holística o papel de evitar discriminações de qualquer espécie e respeitar o discurso que cada um de seus educandos, clientes ou paciente traz.
Aqui entra em cena a figura do “agente de paz” e do “terapeuta social”.
Entendendo que a boa comunicação direta, eficaz entre o terapeuta e o paciente ou professor e o aluno; é e sempre será o meio e a condição “si ne qua nóm” ao progresso e o convívio pleno e harmonioso.
Boa comunicação é a primeira condição para se obter êxito em qualquer tratamento terapêutico, adaptação ou reabilitação. Bem como inclusão social, socialização, ressocialização, ou integração da pessoa surda na sociedade comum.
Sugerimos veementemente que tais profissionais busquem conhecer, se atualizar estudar e especializar-se em Língua se Sinais ou enquanto brasileiros, em LIBRAS Língua Brasileira de Sinais.
Procurem dicionários e os DIVERSOS glossários específicos já disponíveis atualmente. Ajudem na confecção de novos materiais, colaborem com o que puder. Apenas faça a SUA parte! “Veja globalmente e Haja localmente” Faça aquilo que estiver a seu alcance.
Não há mais espaço para desculpas, inademissível o argumento raso do desconhecimento. Há inúmeros recursos disponíveis na internet todos acessíveis ao simples digitar de parcas “palavras chaves” como: língua de sinais, LIBRAS, comunidade surda…
Em seu livro Cuidar do Ser, Jean-Yves Leloup, me fez refletir sobre o que seria a doença que não nos deixa ver o BEM presente no outro? Quando eu quero que o outro possua “tais e tais” qualidades, que seja adequado, formatado para que caiba numa forma pré-moldada. Desconhecendo e desconsiderando o bem, a nata qualidade do outro, ainda que seja muito diferente da minha ou da norma. Torno-me culpado, pelo meu desconhecimento, que pode gerar a causa do sofrimento do outo (e de muitos seres incompreendidos)?
Segundo o IBGE* no último censo demográfico de 2010 brasileiro, havia até aquela data: 9.717.318 surdos, (quase 10 milhões) de pessoas surdas, no Brasil, cidadãs como eu e você, que lê este artigo, que pagam impostos e que merecem o respeito de serem tratados como cidadãos. O Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), constatou que: 5% da população brasileira é composta por pessoas que são surdas, ou seja, esta porcentagem corresponde a mais de 10 milhões de cidadãos, dos quais 2,7 milhões possuem surdez profunda, portanto, não escutam absolutamente nada.
Temos observado que A PAZ precisa e poderia ser proporcionada e facilitada com o USO e a compreensão da LIBRAS língua brasileira de sinais. Esta precisa ser aprendida, ensinada, difundida e valorizada.
A LIBRAS deve ser incluída no ensino, na sociedade e utilizada por organizações de todos os setores públicos e privados, quer seja de prestação de serviços, na saúde, na educação, no comércio, na indústria, para garantir acesso a quais que tipos de atendimentos, médicos, jurídicos ou ainda que seja acesso a equipamentos turísticos, de entretenimento e amenidades diversas.
Este idioma deve ser conhecido, respeitado e exaltado. O terapeuta holístico, assistente social, o educador, comunicador além do legislador são aqueles que devem garantir o sucesso dessa interação efetiva em todos os setores da sociedade.
É preciso sermos capazes de mediar as pessoas surdas o acesso à informação de qualidade, às discussões, à cidadania, liberdade, autonomia e o direito ao surdo de ser tratado, protegido por lei, compreendido em seu país como um cidadão que é.
Se o educador, o terapeuta, o assistente social ou o agente da paz, acreditar no potencial da criança ou adulto surdo, se criar condições para que ele se expresse sem receios, apostando no conhecimento dele, promovendo situações em que ele seja ouvido, não apenas para cumprir um protocolo ou um roteiro, é possível se promover uma interação que trará resultados bastante significativos para ambas as partes.
É a partir da sua língua mãe LIBRAS, que as pessoas surdas expressam sua contribuição, cultura, suas ideias e consequentemente, seus anseios para manifestarem sua paz e adquirem a inteireza do ser.
É importante que o agente da paz, educador, ao longo do processo, mostre ao educando todas as possibilidades de crescimento intelectual, profissional e cultural oferecidas a partir da sua habilidade em comunicar-se, fazendo a sua parte* da qual o aprendizado da LIBRAS pode ser a primeira e fundamental etapa.
Encerro este artigo comparando a realidade vista por mim no dia a dia aos objetivos que norteiam toda a minha vida, como membro atuante nas lideranças da comunidade surda, ativista da paz e da inclusão e respeito a diferenças. Este estudo, destaca o quanto ainda precisamos evoluir enquanto sociedade e instituições dedicadas a dissolução da fantasia da separatividade.
No processo de mensurar o acolher o Ser verificou-se a ineficácia nos meios de comunicação em geral. As manifestações orais e sem legenda ainda são a esmagadora maioria dos pronunciamentos oficiais e no entretenimento.
O “mundo está configurado” para a pessoa ouvinte, para a pessoa que tem suas duas pernas, para aquela que está na sua melhor forma. Ainda estamos apenas no início da caminhada para aprender e disseminar A Arte de Viver em Paz.
É preciso começar. Percebemos que na família e na educação é a melhor e mais lógica forma de começar. Respeitar a criança e o educando surdo pois ele sinaliza seu grau de conhecimento a respeito da vida e do mundo precisamos aprender e ensinar a língua que é capaz de derrubar estas fronteiras imaginárias e construir pontes de comunicação entre todos os Seres. Na família e na comunidade onde quer que esteja a pessoa surda merece ser ouvida, acolhida e inserida com tudo aquilo que faz sentido para ela e que, é fruto da sua realidade.
Segundo Weil (2013) “Quando educação se confunde com ensino, a ênfase está (…) no conteúdo de um programa, na aquisição de conhecimentos. A educação tradicional tem uma tendencia a condicionar as pessoas a viverem no mundo exterior”
Estamos aqui propondo um novo paradigma na educação da pessoa surda. Na visão holística e integrativa ainda citando Pierre Weil em A Arte de Viver em Paz “a proposta holística tende a despertar e desenvolver tanto a razão quanto a intuição, a sensação e o sentimento.” Respeitando assim as diferenças em ver e sentir o mundo de cada educando.
Se o educador insistir apenas na questão da oralização da pessoa surda julgando saber o que é certo ou errado, tomando o processo de alfabetização através da escuta como a “solução” instantânea ou mecânica, tirará a oportunidade de a criança ter uma visão da língua como algo vivo, que é, heterogêneo.
A insistência no certo e no errado fará a escola, a família e a sociedade perpetuarem-se na frustrante caminhada obsessiva da correção das “deficiências”.
Sem saber avaliar as diferenças carregadas de significado, percursos que podem ser utilizados como novas trilhas na jornada para Inteireza do Ser.
No Livro A paz como Caminho, Pierre Weil discorre sobre Os Princípios Essenciais ao Êxito de Uma Educação para a Paz e “O sexto princípio se refere à Personalidade do Educador, necessariamente pacífica. (…) educar é uma ação que não se limita ao intelecto do educando, mas visa ao seu corpo, suas emoções, à sua mente e ao seu espírito. Assim sendo, um educador para a Paz precisa ser, na medida do possível um exemplo de equilíbrio, harmonia e Paz.
Nossa consideração final neste artigo é a de que LIBRAS pode ser a ponte que deve ser construída para trazer a Paz à comUnidade surda. O elo entre ouvintes e surdos para que se sintam incluídos. Numa sociedade que mitiga a fantasia da separatividade.
O estudo, o conhecimento e a aplicação da Libras em casa, na escola, e na sociedade, pode ser aquilo que nos tira dos trilhos lineares das estradas de ferro, de uma educação fragmentada e pode nos colocar na trilha orgânica mais sinuosa, divertida e curta para a inclusão da pessoa surda visando a Paz e a inteireza do Ser. Como dizia Mahatma Gandhi: (…) A Paz, é o caminho.
REFERÊNCIAS
BAGNO, M.; GAGNE, G.; STUBBS, M. Língua materna: letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola, 2002.
MAGALHÃES, DULCE-Organizadora. A paz como caminho: Rio de Janeiro, Qualitymark, 2007
WEIL, PIERRE. A arte de viver em paz: Unipaz Bahia e Unipaz Rio de Janeiro, 2002
LELOUP, JEAN-YVES; BOFF, LEONARDO. Terapeutas do deserto: Vozes, Petrópolis RJ. 1997
CREMA, ROBERTO. Dimensões do cuidar: Vozes, Petrópolis RJ.2015
QUADROS, RONICE MULLER. A educação de surdos na perspectiva da educação inclusiva no Brasil: Revista Espaço, Rio de Janeiro. 1990, v. 30, p.12-17